Ter ou não ter...um canudo

Com o processo de Bolonha II no ar e a constante incerteza que a maioria da comunidade estudantil tem a respeito dos currículos dos cursos leccionados nas universidades, eis que surge mais uma polémica neste cantinho à beira-mar plantado, desta vez a respeito do grau académico do nosso Primeiro.

Ao que parece, segundo informações que a imprensa publicou recentemente, Sócrates foi um aluno precoce, já que conseguiu ser o primeiro diplomado em Engenharia Civíl da UNI um ano antes da primeira leva de alunos deste curso ter saído para o mercado de trabalho. Curiosidades...

Mas para mim esta situação torna-se mais grave porque traduz, infelizmente, a realidade do nosso país. Independentemente das nossas valências, das nossas aptidões, o que interessa é ter o canudo. Dessa forma somos doutores e passamos a exigir respeito, mesmo que nada façamos para o merecer. É exactamente por estas situações que continuamos a ter milhares de alunos em Direito a terminarem os seus todos os anos sem que o mercado os consiga absorver, que cursos como Relações Internacionais ou Ciência Política continuem a ter alunos, fruto desta urgente necessidade de ter o papel que o atesta como licenciado.

Estudei numa universidade privada em Lisboa onde, por acaso do destino, tive o digníssimo Luis Arouca como reitor, já lá vão cerca de 15 anos. Nessa altura a entidade proprietária da Universidade divergiu de opiniões com o senhor e "convidou-o" a mudar de ares, num processo assaz cómico, com seguranças a impedí-lo de entrar no edifício e todo um folclore que apenas não teve maior dimensão porque na altura as televisões dedicavam-se a divulgar notícias mais interessantes. Felizmente, o senhor lá saiu levando parte do corpo docente e abriu a UNI. 15 anos depois, com cheiro a "deja-vu", novo escândalo associado ao seu nome.

Urge repensar o ensino, não só o superior mas todo o antigo ensino profissional para garantir ao mercado de trabalho os quadros técnicos que são necessários. Entre um psicólogo que é caixa no Continente ou um técnico de radiologia que começa a trabalhar mal acaba o curso, quais as diferenças? O segundo não é doutor...

Comments

AC said…
Quando iniciei o secundário abri os olhos também para a Politica.

No meu 2º ano varreram os "Mestres" (gente com anos de experiência prática na profissão), substituindo-os por Doutorados que na teoria percebiam tanto de fotografia ou desenho como o mais comum dos seus alunos, e na prática eram (são) verdadeiros escândalos para a arte de leccionar.

No ano seguinte passaram a fechar as portas das “oficinas” durante os intervalos, pequenos e grandes, o que retirou ao aluno a possibilidade de continuar a explorar a sua arte fora do período lectivo, logo, a dificultar a sua evolução artística.

No último ano iniciou-se o processo de extermínio de cursos, ainda muito em voga hoje em dia…

Ao entrar nas urgências de um hospital, não tenhas a mínima duvida que prefiro ficar num corredor ao lado de um enfermeiro com 20 anos de “casa” do que de um Doutor com meses de prática mas toneladas de conhecimento.

BTW - Ser Doutorado não é um dos requesitos obrigatorios para se puder concorrer a 1º ministro da nação. E eu preferia que os Media preocupassem a nação com cinzentismos sociais e não com o passado mais ou menos cor-de-rosa de quem devia comandar o barco.
sem naufragar said…
Elá, esta peça está deveras recheada de bom-senso.
Sabido que, em país de Doutores e Engenheiros, descora-se a atenção ao profissionalismo e enaltece-se o título. Se alguém chegar a um café com a calcinha manchada de tinta tem um tratamento assim-assim, se a pessoa chegar engravatada, tem uma atendimento ASSIM-ASSIM. Tapar os botões das camisas ainda faz diferir: tratamento hipócrita de tratamento super-hipócrita. Tenho dito.
AC said…
Boas parceiro

Segui com atenção o debate de ontem na RTP1 e pela primeira vez vi apreensão na linguagem gestual do nosso 1º, mas a sua capacidade de cativar pela força e distrair com charme, saiu na minha opinião vencedora ante a plateia nacional.

Não discuto os argumentos porque esses (é sabido), para a grande plateia nacional são irrelevantes.

Tremeu, mas não vacilou...

Abraço
Mestre said…
Eis que regresso depois de uma pausa de férias, que irá ser devidamente relatada, e vejo que por cá está tudo na mesma.

Não defendo que se é melhor profissional pelo facto de ter um canudo, custa-me é assistir ao deboche com que o poder político troça do comum cidadão.

Enfim, siga a tinta (dos jornais), como diz um amigo meu ;)

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