A ver navios

Diz-se que Junot ficou "a ver navios" do alto do miradouro de Santa Catarina,quando chegou a Lisboa e vislumbrou as velas da frota portuguesa a sair da barra do Tejo. Estava segura a monarquia portuguesa e garantida a resistência apoiada no império colonial.

Celebram-se este ano 200 anos da fuga da familia real para o Brasil, fuga essa planeada para evitar que Portugal fosse um estado fantoche nas mãos de Napoleão. Um período conturbado da nossa história, que durou entre 1801 e 1811, em que a guerra assolou território nacional e que culminou em dois períodos onde as águias imperiais dominaram vastas parcelas do território português.

Fiel à velha aliança com Inglaterra, ameaçado por uma Espanha conivente a espaços com Napoleão, Portugal desafiou o bloqueio continental com que a França tentava impedir o comércio inglês com os estados europeus. Um pequeno exército liderado por Artur Wellesley, futuro Duque de Wellington, veio para Portugal com a missão de ajudar a expulsar os franceses e garantir na peninsula ibérica uma resistência forte contra o expansionisto françês.

Já na altura o povo, e o soldado, português era visto pelos ingleses como bravo, empenhado e valoroso, apesar de mal liderado - um mal que, pelos vistos, perdurou até ao séculos XXI. Enquanto a plebe e o clero não toleraram a ocupação estrangeira, parte da nobreza e da burguesia abraçaram os ideiais da revolução francesa, tendo inclusive fundado a Legião Portuguesa e combatido ao lado de Napoleão. Na 3ª invasão, em 1810, Massena trazia um staff de oficiais portugueses com o intuito de tornar a vitória mais fácil mas um esforço nacional na construção das Linhas de Torres, associada a uma política de "terra queimada" e do êxodo das populações cívis levou a que os franceses fossem obrigados a retirar, para nunca mais voltarem a pisar solo português.


Ainda hoje algumas batalhas da guerra peninsular são lembradas na história, como Buçaco, Almeida ou Vimeiro, mas os portugueses contribuiram para as vitórias de Fuentes de Onoro, Talavera ou Salamanca, duma forma bem mais significativa que os espanhóis. Onze anos mais tarde, fruto de um choque ideológico e cultural, Portugal viu-se confrontado com uma guerra cívil entre Absolutistas e Liberais, onde os ideais franceses acabaram por triunfar. Mas por vontade lusa...

Comments

Miguel Ferreira said…
...o povo, e o soldado, português era visto pelos ingleses como bravo, empenhado e valoroso, apesar de mal liderado - um mal que, pelos vistos, perdurou até ao séculos XXI.

Dizes tudo!!! Ainda hoje não sabemos canalizar a nossa destreza e inteligencia a nosso favor!

Um abraço
Paulo said…
Foi há exactamente 200 anos que a história e a cultura do Brasil começaram a mudar. Nunca mais seria como dantes!
O legado foi impressionante: com a chegada de Dom João VI e da restante família real portuguesa, construíram-se Portos, criaram-se a Biblioteca Real (Biblioteca Nacional) e a Real Academia de Belas Artes (Museu Nacional de Belas Artes).
E pensar que foi tudo planeado pelo Rei, deixando os invasores franceses entregues a nada!
AC said…
Das Invasões o que mais me doi é a arquitectura perdida para sempre... porque a "ideia" (sim por nossa vontade) acabou por entrar na mesma, e ainda bem que entrou, mais deviam assim entrar DIARIAMENTE!

Um detalhe: Falava também o Julio C. da valentia de Barbaros e Celtas, sem lhes reconhecer liderança... é comum aos vencedores.
No caso do Napoleão, sim, apanhou-nos no nosso pior periodo militar... e ainda por cima ABANDONADOS pela liderança, para variar...

Desconhecia a origem da expressão, obrigadão man, não a voltarei a esquecer cada vez que me sentar no Miradouro a ouvir Lisboa.

Abraço

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