Analfabrutos
Ontem assisti na SIC a uma reportagem sobre analfabetização em Portugal e ficaram-me dois números na cabeça. No censos de 2001 Portugal tem 9% de analfabetos, a maior percentagem da União Europeia.
No entanto, segundo números de 1875, Portugal tinha 75% da população sem saber ler nem escrever, apesar dos grandes vultos literários do século XIX. Nessa altura a vizinha Espanha ficava-se pelos 65% enquanto a Alemanha e os países nórdicos tinham uns modestos 5% de analfabetos. Ou seja, 126 anos depois, estamos pior que esses países em 1875.
Isto mostra de facto o desvio gigantesco que temos face aos melhores. Se considerarmos que em 25 anos atingímos a marca dos 5% podemos dizer que levamos 3 ou 4 gerações de atraso. A viva prova disto reflecte-se na sociedade portuguesa já que, apesar de 91% estarem noutro patamar, a cultura do chico-espertismo e do compadrio abunda no nosso país.
Se olharmos para a classe política conseguimos perceber que, apesar de saber ler e escrever, os escrúpulos e a cidadania é algo que não se ganha nos bancos das escolas e das universidades. Os valores de respeito pelo próximo, de isenção e de sentido de estado que existem nos países de referência do norte da Europa (os países com menos corrupção, com melhor qualidade de vida) têm raízes profundas que, infelizmente, não vejo solidificarem aqui por terras lusas.
No dia em que medirmos os analfabrutos, pode ser que voltemos aos valores do século passado. Isto considerando o número de "trutas" que abundam neste oásis à beira-mar plantado.
Comments
Quando se quer que toda a gente tenha um "diploma" de 9º ano, mas pouco importa que o indivíduo saiba escrever uma frase sem erros ortográficos ou perceber que o número 500 é diferente do 500000000... há qualquer coisa que não está bem.
Investir na educação, não pode ser só, em minha opinião, investir em diplomas. Mas quem sou eu para contrariar as políticas... :s