Abraço amigo

Quando o telefone tocou ficou um pouco surpreso. Apesar de às vezes manter contacto com esse amigo e de ir adiando um almoço, desta vez a proposta teve um final feliz. Finalmente iam partilhar uma mesa e por a conversa em dia, como se meses de vida fossem apenas uns dias ou uns minutos. Afinal os amigos de longa data são assim, minimizam as ausências e celebram cada vez que se encontram.

No entanto, desta vez, o amigo vinha mais calado. Não que fosse muito falador, desde a infância que era parco em palavras e um pouco introvertido. Mas o silêncio tinha uma razão, as últimas semanas tinha introduzido um novo tema no seu dia a dia. Um quisto suspeito que implicou uns exames mais sérios e culminou numa cirurgia preventiva, para retirar tudo o que fosse suspeito e evitar que, no futuro, degenerasse em algo mais grave.

O curioso nestas alturas é a necessidade de partilha, o gostar de falar sobre a experiência e os passos seguintes. A químio assusta muita gente e tentam-se exacerbar os espíritos maus procurando o conforto de palavras amigas, especialmente quando se sabe que elas transportam a calma de quem já viveu uma situação semelhante.

O almoço foi curto, como todos os que se marcam durante a semana no intervalo do trabalho, mas o jantar seguinte já foi marcado e adivinha-se animado. Há que celebrar a vida e enfrentar o “bicho” de frente com um sorriso nos lábios, o combate faz-se até ao último suspiro.

Comments

AC said…
Sustos que nos pregam cada vez mais cedo na vida.
Deveriam servir para refazermos prioridades mas esquecem-se (ou acomodam-se)passado o medo.

licções, reinicios...

Abraço forte

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