A reboque da crise
Celebraram-se 4 anos de executivo socialista e ouvi uns comentadores fazerem os balanços do costume. O que foi prometido e o que foi entregue, o que correu bem e o que correu mal nestes últimos anos da rosa. A conjuntura internacional não ajudou e acabou por dar a machadada no optimismos socratiano, que vivia em 2007 como Nero assistiu ao incêndio de Roma ou Hitler no seu bunker em 1945 ainda achava possível ganhar a guerra. A demagogia instalou-se para os lados de S. Bento e os poucos ministros lúcidos desdobram-se em esforços para credibilizar um governo que, actualmente, tem um timoneiro com pés de barro.
Muito se escreveu a respeito da crise internacional, do sub-prime, da ausência de regulação e da fome cega do capitalismo pelo lucro fácil. Aqui Portugal está sempre a perder, já que nunca foi um país estruturalmente rico (fomos vivendo da India, do Brasil e de África enquanto pudemos) e restava usar a massa cinzenta para fazer a diferença, ao estilo do que fez a Finlândia, a Dinamarca ou a Suécia.
O problema é que outra "sombra" acompanha a crise económica: a crise de valores. E aqui Portugal bate-se taco a taco com a Serra Leoa, o Perú ou o Congo. Desde há mais de uma década que as classes dirigentes se abotoam, de forma mais ou menos legal, desprezando valores como a honestidade e a integridade. Foi o ex-ministro Pina Moura, que enquanto membro do executivo tomou decisões em prole da empresa onde trabalha hoje; foi Dias Loureiro, que passou de homem forte de Cavaco a administrador na banca e agora interpreta o papel de Pôncio Pilatos; foi o caso recente de um alto dirigente rosa que passou para a direcção de uma empresa de obras públicas, foram as Gebalis, Estradas de Portugal e outras dezenas de situações que, timidamente, vão sendo do conhecimento público. E culpados? Zero...
Enfim, são tantos os casos, coroados com a cereja em cima do bolo pelas suspeitas (variadas) do comportamento do nosso primeiro, que deixei de acreditar nesta classe política. Vejo centenas de formiguinhas atrás da corte, tentando agradar e deste modo obter o seu quinhão, garantindo o "tacho" que lhe permita viver à conta do estado, sem ter que dar o litro para fazer o país andar.
Agora voltámos ao tempo do lápis azul, tentando censurar notícias, perseguindo Movimentos de Cidadãos ou, inclusive, ameaçando carros alegóricos carnavalescos. Por isso os socialistas estão contra o placard do "Pinócrates", devem ter descoberto uma correlação entre o riso e a crise.
Ao estilo d'"O nome da Rosa", ainda iremos ver o riso exclusivo dos festins de S. Bento. A nós restamos participar na charada de uma democracia onde os sérios são cada vez menos.
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