Paralelismos

Ontem tive um sonho engraçado. Sonhei que tinha decidido fundar uma Federação Portuguesa do Jogo da Copa. Afinal, há mais de três décadas que jogo às Copas, até tenho jeito para a coisa e como neste cenário de crise temos que ser empreendedores, aproveitava um vazio regulamentar neste hobby e deixava o meu legado aqui no burgo.

Quando falei nisto a uns amigos o pessoal delirou. Afinal, era fantástico ver a Copa elevada ao nível de outro desporto. Alguns já imaginavam um campeonato nacional de Copas, na variante singular e pares, outros imaginavam uma Champions League da Copa e os mais criativos viam uma final mundial da Copa ao estilo Karpov-Kasparov.

Agora tinha que passar esta ideia na prática. Criei uma entidade fiscal e comecei a emitir uns cartões giros, com uma imagem engraçada que deixavam as pessoas intrigadas. “Federação Portuguesa do Jogo da Copa” ? Isso existe?

“Claro”, dizíamos nós. Aliás, a partir desta altura nenhum jogo de copas pode ser realizado sem o respectivo registo de jogadores. Estamos cá para defender os praticantes e garantir a evolução do desporto, garantir a utilidade pública desportiva e, mais tarde, controlar todos os jogos de copas a nível nacional.

Depois decidi falar com a malta amiga nas faculdades e com as tascas lá do bairro. Criei um “Regulamento do Jogo da Copa” e passei a homologar todos os torneios num raio de 10 kilometros. Era um princípio e a malta até achava isto de serem “federados” no Jogo da Copa uma coisa gira. Sempre podiam mostrar ao médico quando eram acusados de não praticarem desporto.

Como proposta de valor criei um seguro de praticante, que cobria lesões nos pulsos e dedos e protegia o praticante de cinzeiros, beatas e outros objectos arremessados em prova e foi fantástico ver os posters “Torneio homologado pela FPJC” em tudo o que era evento da Copa.

Com o tempo as coisas foram-se transformando. O vinho nas tascas foi piorando de qualidade, as mesas deixaram de estar tão limpas de torneio em torneio, os horários nunca eram cumpridos e lá tive que ir defender os meus atletas. Escusado é dizer que me bateram com a porta na cara e percebi que o meu poder carecia de autoridade. Enquanto tinha sido bom para o negócio alimentaram o meu projecto mas quando comecei a exigir as coisas ruíram pela base. Afinal, faltava “o papel” que me dava o direito de regular, controlar e implementar. E mesmo com isso dei por mim a pensar que, com tanta obrigação, a Bisca não iria ganhar espaço em detrimento da Copa.

Entretanto tocou o despertador. Eram 6.30 e tinha que me equipar, era dia de mais um Open.

Comments

Anonymous said…
Simplesmente genial, nao ha palavras.
Sem tirar nem por!

Ass: o puto que trouxeste para a competicao

abraco

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