Confidencialidades

"Listen carefully, I should say this only once"
Com esta frase me transporto para uma das séries de BritCom que mais admiro, o Allô Allô. Assim começavam todas as frases de Michelle, a líder da resistência francesa, quando falava de algo com as diferentes personagens.

Imagino que pelos lados de S. Bento a preocupação deve ser a mesma, uma vez que deixámos de saber quem anda pelo meio de uma conversa telefónica a dois. Assim, há que dizer apenas uma vez e esperar que ninguém apanhe à primeira, sob pena de repetir muito o mesmo tema e levantar suspeitas.

Com todo o burburinho em volta das escutas (não tem nada a ver com os distinitos membros do CNE e da AEP) finalmente consigo perceber que temos dois pesos e duas medidas em Portugal. Ou seja, qualquer pessoa pode ser escutada após as respectivas formalidades mas para escutar políticos é necessária uma autorização superior, mais complexa e que, provavelmente, apenas serve para deixar alguns de sobreaviso e passarem a ter o cuidado da Michelle, do Allô Allô. Desta forma cai por terra a justiça igual para todos os portugueses e fica a nú a dualidade de critérios que a classe política exige para sí, como se falássemos de uma elite acima de qualquer suspeita.

O curioso deste processo é que o escutado não era o nosso Primeiro mas sim um grande amigo, daqueles mesmo do peito. O que me transporta para outro provérbio popular: "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Não estranho que entre amigos até estejam registados para a posteridades uns "Porreiro, pá" mas imagino que o teor das conversas seja mais perigoso. Tipo o telefonema entre colegas de trabalho onde se gaba o decote da secretária da administração ou a breve chamada que acerta o encontro entre amantes. No meu caso, arrisco-me ainda a pensar nas críticas que fiz ao actual presidente do Benfica e à minha antiga chefe, colocando a nú todos os meus pensamentos mais turtuosos.
Com a sucessão de casos estranhos em volta de Sócrates, acho que o problema deve ser mesmo das companhias, uma vez que nada se prova nem consegue provar. Mas quanto tempo demora uma pessoa a perceber que tem amigos manhosos? Ou é muita ingenuidade ou não estaremos nós perante um denominador comum a tantos casos e suspeitas?

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